Não se engane, caro leitor ou cidadão atento: a nova política é, na verdade, a velha política com filtro de Instagram. Trocaram o paletó pela camiseta justa, o discurso técnico pelos vídeos com trilha sonora e legendas coloridas. Mas o objetivo continua o mesmo de sempre: voto, poder e dinastia.
Vivemos uma era em que prefeitos, governadores e até vereadores se comportam como influencers de si mesmos. Viraram estrelas das próprias gestões. Passam mais tempo em frente à câmera do que nas reuniões com técnicos. Dão bom dia ao povo com stories, anunciam obras como se fossem trailers de blockbuster e visitam feiras como quem pisa no tapete vermelho de Cannes.
Mas o roteiro tem um segundo ato — e ele atende pelo nome de primeira-dama-candidata. Sim, elas vêm aí. Antes discretas, hoje fazem parte da estratégia de continuidade de poder. A esposa do prefeito, antes do bastidor, agora surge como protagonista. Participa de eventos, entrega cestas básicas, grava vídeos com crianças, aparece sorrindo ao lado de ambulâncias recém-compradas, e vai ganhando likes, seguidores… e capital político.
Estamos assistindo à profissionalização da imagem familiar no poder. Um marketing de laços e alianças matrimoniais, onde o discurso é “cuidar das pessoas”, mas o plano é claro: manter a máquina funcionando com o sobrenome no poder e a base eleitoral cativa.
Claro, haverá quem diga: “Mas ela é dedicada, faz um bom trabalho social”. Pode até ser. Mas o problema é o contexto. Quando a máquina pública serve como trampolim para projetos familiares, a linha entre serviço e autopromoção se apaga. E o que deveria ser política pública vira campanha disfarçada.
Essa prática, aliás, tem nome: clientelismo moderno com embalagem digital. As redes sociais se transformaram em ferramenta de manutenção de poder. O povo, mais uma vez, é plateia — e, pior, segue aplaudindo.
É preciso estar atento. A política não pode ser herança de casal. Não se pode transformar gestão pública em empresa familiar com verniz de engajamento. O Brasil precisa de líderes com projeto de país, não de influenciadores com plano de reeleição doméstica.
No fim das contas, a selfie passa, o story some, mas as consequências de uma política moldada para o marketing ficam por quatro — ou oito — anos.