Raquel Lyra, o Cabo e a negação da segurança pública

Mais uma vez, a política fala mais alto do que o dever. Pernambuco assiste a um embate que revela o triste retrato do Brasil real: prefeitos pedindo socorro, governadores fazendo cálculo, e a população refém da violência. A recusa da governadora Raquel Lyra ao pedido do prefeito Lula Cabral para o envio da Força Nacional ao Cabo de Santo Agostinho é mais do que uma negativa administrativa — é um gesto político revestido de descaso.

O Cabo não é um município qualquer. É uma das cidades mais violentas do estado, onde o medo faz parte da rotina, e onde os tiroteios já não assustam — paralisam. Quando um prefeito, mesmo com as diferenças partidárias, estende a mão pedindo apoio federal para garantir o básico — a segurança da sua população — o mínimo que se espera é sensibilidade, não retórica.

Mas o que vimos foi uma resposta dura, fria, técnica até demais para um problema quente como o sangue que escorre nas periferias da cidade. Raquel Lyra preferiu ignorar o apelo de Lula Cabral e insistir em um discurso de que o Estado tem feito sua parte com reforço da polícia ostensiva. Ora, se tivesse mesmo feito, o pedido pela Força Nacional não teria vindo.

Governar é, acima de tudo, superar diferenças e fazer política para o povo — e não contra ele. Ao recusar o reforço federal, a governadora mostra que, em Pernambuco, a guerra partidária tem mais prioridade do que a guerra contra o crime. Uma demonstração clara de que, no embate entre interesses políticos e urgência social, a população continua sendo a principal vítima.

A segurança pública não pode ser campo de batalha eleitoral antecipada. Nem Raquel Lyra é a governadora apenas dos aliados, nem Lula Cabral é prefeito apenas do seu partido. Ambos foram eleitos para proteger e servir seus cidadãos. E quando a população clama por socorro, não se responde com notas técnicas, mas com ação.

Recusar ajuda, em nome de uma vaidade política, é virar as costas para o povo. E o povo não esquece quem fecha a porta quando a violência já bateu à janela.