Paz armada entre Alepe e Raquel Lyra: o povo continua na arquibancada

A novela política que se arrastou por semanas entre a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e o governo Raquel Lyra parece caminhar para um cessar-fogo. Depois de trocas de farpas públicas, recados nas entrelinhas e votações atravessadas, o clima agora é de trégua ao menos na superfície.

O sinal de paz veio em reuniões de bastidores e gestos sutis no plenário. Deputados que até pouco tempo discursavam contra o Palácio agora ajustam o tom, e o governo, que ensaiava endurecer, acena com diálogo e mais espaço para as demandas parlamentares. É o típico acordo “ganha-ganha” para quem está no jogo mas quase nunca para quem assiste de fora.

Porque no final, a velha máxima continua valendo: a briga não é pelo povo, é pelo controle. Pelo orçamento, pelos cargos, pela narrativa política que vai pesar em 2026. E quando os interesses se acertam, o cidadão descobre que ficou meses servindo apenas de pano de fundo para uma disputa que, no frigir dos ovos, não melhorou sua vida em nada.

A paz que se anuncia é importante, claro. Pernambuco precisa de estabilidade para destravar projetos, investimentos e serviços. Mas não nos enganemos: essa estabilidade só veio porque as partes calcularam que a guerra já não era mais vantajosa. E é aí que mora a frustração. Quando governantes e parlamentares brigam, a máquina trava; quando se acertam, voltam a girar… mas nem sempre na direção de quem mais precisa.

No placar final dessa disputa, governo e Assembleia saem com suas fatias de poder preservadas. Quem continua na arquibancada, torcendo e pagando o ingresso mais caro, é o povo. E, como sempre, sem direito de entrar em campo.