Por Aldo Vilela – CBN Recife
Se alguém ainda tem coragem de perguntar por que o Brasil não vai pra frente, a resposta está na cara, no contracheque, no CNPJ e nas licitações viciadas. De 2018 até agora, nada menos que R$ 773 milhões em emendas parlamentares foram parar em empresas ligadas a políticos. Isso mesmo. Dinheiro público, dinheiro seu, meu, nosso irrigando negócios particulares de quem deveria estar no poder para servir, e não para se servir.
Ao menos 1.200 políticos receberam esses repasses: entre eles, prefeitos, suplentes, vereadores, ex-parlamentares e até congressistas com mandato em vigor. E quem mais se beneficia desse verdadeiro esquema institucionalizado são mais de 400 construtoras ligadas a esses agentes públicos.
Em vez de servir à população com saúde, educação e infraestrutura de verdade, o que se vê são cidades pequenas aquelas que mais sofrem, mais precisam e mais acreditam virando cenário de uma política suja, feita no asfalto fajuto, na creche que nunca fica pronta, no posto de saúde pintado às pressas pra tirar foto de inauguração.
Esses municípios, que mal arrecadam para manter a folha de pagamento em dia, se transformaram em balcões de negócios. O prefeito fecha contrato com a empresa do parente do vereador, que por sua vez já garantiu a emenda com o deputado que também tem uma construtora esperando na fila da verba. É o ciclo da indecência travestido de normalidade.
E nós? Bem, nós continuamos aqui: trabalhando, pagando impostos, ouvindo discursos vagos e promessas de mudança enquanto a moral e a decência descem o ralo todo santo dia. Pior que isso, é termos que fingir surpresa quando vemos o cinismo dessas figuras em entrevistas, dizendo que “a verba foi bem aplicada” ou que “tudo está dentro da legalidade”.
É legal mesmo. Mas não é moral. E esse é o câncer que nos corrói: um país onde tudo pode, desde que se esteja do lado certo da caneta.
Definitivamente, esse país não aguenta mais essa engrenagem podre, onde a política virou profissão, a emenda virou investimento e o mandato virou um atalho para o enriquecimento pessoal. O que sobra é um povo cada vez mais cansado, desacreditado, e o que é mais perigoso anestesiado.
O Brasil precisa reagir. Porque quando o crime se torna rotina, quando a indignação dá lugar à apatia, e quando os maus políticos vencem pelo cansaço, a democracia apodrece por dentro.
E depois, não adianta perguntar “onde foi que erramos?” O erro está escancarado. Está nos números, nas notas fiscais e nos sorrisos de quem já descobriu que roubar pode desde que seja com gravata e mandato.