Brasília, mais uma vez, virou palco. Mas não o palco da democracia madura, da articulação política responsável ou do debate público qualificado. A capital assistiu nesta semana a uma cena que beira o teatro amador: parlamentares se amordaçando dentro do plenário da Câmara dos Deputados, travando votações e fazendo da pauta legislativa um refém da radicalização política.
Sob o pretexto de protesto porque sempre há um deputados da oposição decidiram dramatizar. Com faixas, mordaças, palavras de ordem e paralisações, transformaram o espaço que deveria ser sagrado para o debate em mais uma arena de espetáculo político. A razão? Pouco importa. No fundo, o que se viu foi menos sobre conteúdo e mais sobre narrativa. O Congresso brasileiro, infelizmente, tem se especializado em encenações.
O problema não é a crítica. Nem o protesto. Isso é parte do jogo democrático. O problema é a banalização dos símbolos, o uso raso das instituições e o gosto crescente por atos performáticos que empobrecem o debate e ridicularizam o Parlamento diante da sociedade.
Enquanto deputados se amordaçam como se fossem censurados, o povo segue calado por motivos bem mais reais: desemprego, educação precária, saúde agonizante, insegurança e um custo de vida que não dá trégua. O protesto, nesse caso, não é apenas uma encenação de mau gosto, mas uma ironia cruel para quem precisa que o Congresso funcione, legisle, resolva.
E mais uma vez, trava-se tudo. Nenhuma pauta avança. Nem projeto, nem reforma, nem medida provisória. O Brasil é um país que anda para frente com esforço, mas que o Congresso insiste em puxar para trás. O Legislativo virou refém das disputas ideológicas, dos interesses eleitorais, das vaidades pessoais. E o país fica à mercê.
A verdade, dura e repetitiva, é que o Congresso Nacional se tornou um palco de egos inflados e compromissos murchos. Uma câmara de representantes que já não representa o interesse coletivo, mas os interesses de nichos, corporações e, sobretudo, de si mesma.
Até quando vamos tolerar esse circo montado com dinheiro público? Até quando os deputados acharão que são protagonistas de uma novela política que ninguém mais quer assistir? A democracia é feita de gestos, mas também e principalmente de responsabilidade. E isso tem faltado com frequência por ali.
O Brasil precisa de um Congresso que trabalhe, que dialogue, que vote, que proponha. Não de um que se amordace de forma simbólica enquanto cala, na prática, as demandas urgentes de um país inteiro.
Mais do que um protesto, o que se viu foi um retrato melancólico: a imagem de um Parlamento que perdeu o senso, a sobriedade e o foco. E que, aos poucos, vai perdendo também a paciência do povo.