Vamos direto ao ponto: o Brasil decidiu aumentar o número de deputados federais. Isso mesmo. Em um país onde falta dinheiro para hospitais, escolas, segurança e saneamento básico, a prioridade parece ser abrir mais cadeiras no Congresso. Como se o problema fosse falta de gente — e não de vergonha.
Com o novo cálculo baseado no Censo do IBGE, a Câmara passará a ter 513 para 531 deputados. Trinta novas excelências, cada uma com salário de mais de R$ 44 mil, auxílios generosos, assessores, passagens, cotas e, claro, emendas milionárias. No fim das contas, o custo estimado para esse reajuste pode ultrapassar os R$ 3 bilhões por legislatura. Mas, para eles, é só mais um número no orçamento. Para o povo, é mais um peso no lombo.
E o pior: vendem isso como justiça federativa. Dizem que é para “corrigir distorções de representação”. Pode até haver argumento técnico. Mas a verdade é que, no fundo, ninguém está pensando no povo. Estão pensando em poder. Mais deputados significam mais emendas, mais cargos, mais influência nos bastidores. Significa fortalecer os partidos do centrão, que já governam de fato, mesmo sem disputar a presidência.
E o cidadão? Ah, esse assiste de longe. Muitos nem sabem quem são seus atuais deputados — e agora terão ainda mais nomes para tentar lembrar a cada eleição. Mais nomes para prometer o que não cumprem. Mais gabinetes para empregar apadrinhados. Mais discursos vazios. Mais do mesmo.
É o Brasil do desperdício institucionalizado. Enquanto o trabalhador se vira para pagar o aluguel e a gasolina, o Estado engorda sua máquina como se vivesse numa bolha — imune à crise, à inflação e à realidade. Aumentar o número de deputados, neste momento, é um tapa na cara da sociedade. É a institucionalização da abundância num país que ainda caminha na miséria.
Precisamos de menos parlamentares e mais responsabilidade. Menos plenários e mais presença nas ruas. Menos discursos e mais ação. Porque o povo não aguenta mais bancar banquete para quem não tem coragem de sujar o sapato para visitar um hospital público ou uma escola sem merenda.
O Brasil não precisa de mais deputados. O Brasil precisa de mais decência.