Gilmarpalooza: luxo, turismo e dinheiro público na conta do povo

Virou tradição, virou evento, virou piada pronta. Mas o nome oficial mesmo é Gilmarpalooza — a já conhecida conferência internacional organizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em Portugal. E, mais uma vez, quem paga essa conta é o povo brasileiro.

Neste ano, mais de 36 parlamentares embarcaram rumo a Lisboa. E o Congresso Nacional vai desembolsar mais de R$ 760 mil só com diárias, passagens e despesas diversas. Tudo isso para que senadores, deputados, ministros e magistrados discutam pasmem os problemas do Brasil. Mas bem longe deles, com vinho bom, hotel cinco estrelas e paisagem à beira do Tejo.

É o retrato fiel do país em que vivemos: enquanto milhões de brasileiros vivem com o básico, enfrentam filas no SUS, escolas sem estrutura e cidades desmoronando com as chuvas, a elite política e judiciária vive num mundo à parte um Brasil paralelo, regado a luxo, seminários elegantes e discursos que não mudam a vida de ninguém.

Não se trata de criticar o debate acadêmico, tampouco o intercâmbio de ideias internacionais. O problema é outro: quem paga a conta e o que se leva de volta. E a resposta, ano após ano, é a mesma: paga o povo e volta-se com promessas vazias. O Brasil real continua empacado, e a viagem, no fim, é só mais um pretexto para manter viva a cultura do privilégio.

É uma afronta escancarada. Um ministro do Supremo Tribunal Federal produzir um evento internacional com tamanha pompa, financiado com recursos públicos ainda que de forma indireta é um escândalo. E mais escandaloso ainda é ver tantos parlamentares abandonarem seus compromissos no Brasil para aproveitar a “conferência” com ares de feriado prolongado.

E o mais curioso: os problemas do Brasil que tanto dizem discutir lá em Lisboa estão aqui mesmo, nas periferias, nos presídios superlotados, nas comunidades sem saneamento, no desemprego juvenil, na violência crescente. O que exatamente esses representantes públicos acham que vão encontrar em Portugal que não possam enfrentar de frente no Brasil?

Enquanto isso, o contribuinte brasileiro, sufocado por impostos, assiste a tudo de longe, sem direito nem ao ingresso da festa só à conta final.

Chega de cinismo institucional. O Brasil precisa urgentemente rever seus valores. Precisamos de representantes que enfrentem o calor do debate aqui dentro, no plenário, no chão das cidades, e não em salões europeus. Chega de turismo oficial disfarçado de missão. Chega de transformar o serviço público num bilhete premiado para poucos.

O Gilmarpalooza pode até continuar. Mas que fique claro: o custo dele é pago com o suor de milhões que nunca verão Lisboa. E isso é inaceitável.