Vivemos tempos duros, não apenas economicamente, mas moralmente. O bom senso aquele velho conhecido que guia os civilizados parece ter saído de férias longas, e ninguém sabe se volta. O Brasil segue atravessando um processo de polarização que, mais do que dividir opiniões, vem dilacerando relações, minando a tolerância e transformando qualquer discordância num campo de guerra.
A política, que deveria ser o exercício da coletividade, virou um ringue onde não se busca entendimento, mas destruição. E a internet, com seus algoritmos que reforçam bolhas e certezas burras, virou o megafone dos que menos têm a dizer mas falam alto, sem pausa e sem filtro. Como dizia Humberto Eco, esse tempo deu voz a legiões de idiotas que antes só falavam nos bares ou nas filas dos ônibus. Agora, com celular na mão, distribuem certezas e ódio como quem joga panfletos de guerra.
A cada post, a cada comentário agressivo, a cada ataque gratuito, uma parte do país vai sendo empurrada mais para os extremos. A moderação virou crime, o diálogo é visto como traição e o contraditório virou motivo de cancelamento. Os sábios? Esses estão calados ou escanteados. Porque num ambiente onde a gritaria é regra, quem fala baixo não é ouvido.
E aí está o grande drama: não é apenas uma batalha de ideias, mas uma demolição sistemática da convivência. O que vemos hoje são brigas intermináveis por política, religião, futebol, vacina, clima, cultura tudo vira motivo para confronto. Não há mais espaço para nuance, nem para a dúvida.
Infelizmente, o Brasil parece ter se tornado um país onde pensar virou ofensa, refletir virou suspeita e ponderar virou covardia.
Não se trata de silenciar ninguém, mas de lembrar que liberdade de expressão não é salvo-conduto para a estupidez. Discordar é saudável, necessário, civilizatório. Mas a ignorância militante que domina as redes essa que grita, ofende, ameaça não é sinal de democracia viva. É sintoma de uma sociedade doente.
Está mais do que na hora de reabilitarmos o bom senso, essa joia rara que anda em extinção. Porque se continuarmos a permitir que os idiotas gritem enquanto os sábios se calam, o silêncio que restará será o da razão sepultada.
E aí, meu amigo, não há hashtag que nos salve.