A notícia de que a deputada Érika Hilton contratou dois maquiadores como assessores parlamentares caiu como uma luva… de veludo em quem adora um teatro político. É claro que a parlamentar tem direito a montar sua equipe, e não há ilegalidade direta no ato. Mas a pergunta que não cala é: e a moralidade? E a noção de que assessor parlamentar deve servir ao interesse público, e não à vaidade da vitrine?
Quando o povo aperta o cinto para pagar a conta, ver o Congresso Nacional transformar gabinetes em bastidores de camarim é mais um tapa — não na cara, mas na inteligência do eleitor.
Estamos falando de uma Casa que deveria ser exemplo de austeridade, ainda mais em tempos de crise. Em vez disso, vira palco de absurdos. Deputados que gastam mais com gráfica do que com educação. Que transformam assessoria em cabide de emprego. E que usam verbas parlamentares como se fossem prêmio de loteria.
O caso da deputada Érika Hilton chama atenção pelo inusitado, mas está longe de ser isolado. O Congresso brasileiro vive uma farra institucionalizada. Tem deputado com assessores fantasmas. Tem viagem internacional com diária turbinada. Tem cota parlamentar usada para bancar restaurante de luxo, aluguel de carro premium, hospedagem em resort — tudo pago com o seu, com o meu, com o nosso dinheiro.
A política brasileira virou um reality show disfarçado de democracia. E pior: um reality sem eliminação. Porque a cada escândalo, nada acontece. A base eleitoral continua fiel, as punições são tímidas e a impunidade ganha um gloss labial novo a cada legislatura.
O povo está cansado. Não de diversidade, de maquiagem ou de imagem pública. Mas de saber que, no Brasil, os bastidores do poder são mais caros do que os palcos da vida real.
Enquanto não houver um espelho mais honesto no Congresso — que mostre aos parlamentares quem eles realmente representam — continuaremos vendo o teatro político custar caro demais para quem assiste do lado de fora.