O Brasil vive hoje não uma crise comum, mas uma verdadeira desordem política institucionalizada. Um país sem bússola, onde cada poder rema para um lado, e o povo fica no meio desse mar revolto, tentando não afundar.
O Legislativo, que deveria ser a casa da representação popular, virou palco de vaidades, de chantagens políticas e de trocas explícitas por emendas. Deputados e senadores se digladiam por interesses pessoais, enquanto votações importantes se arrastam, travadas por disputas de espaço e poder. O que menos se vê ali é compromisso com o Brasil real — aquele da dona de casa que não tem gás, do trabalhador que espera horas no hospital, do jovem que sonha com uma universidade que funcione.
No Executivo, temos um governo que fala muito e age pouco. Um governo que vive em campanha, mas se atrapalha quando o assunto é gestão. A relação com o Congresso é feita à base do toma-lá-dá-cá, e a agenda econômica vive tropeçando nos próprios discursos. A base aliada, quando existe, é mais frágil que papel molhado. A oposição, por sua vez, faz barulho, mas raramente apresenta algo concreto além do grito.
E o Judiciário? Esse, então, resolveu deixar a toga de lado e vestir a armadura do ativismo político. Ministros que se comportam como protagonistas, que concedem entrevistas, publicam livros, participam de seminários internacionais e muitas vezes agem como legisladores de luxo. O Supremo virou uma espécie de superpoder, que julga, interpreta e, se necessário, reescreve as leis — e ninguém mais ousa contestar, com medo de ser tachado de inimigo da democracia.
No meio disso tudo, o brasileiro comum já não sabe mais em quem confiar. As instituições que deveriam trazer estabilidade agora alimentam a instabilidade. O país vive em permanente embate institucional, onde ninguém parece disposto a ceder ou a dialogar. É um cabo de guerra onde a corda é o povo.
Essa desordem política não é fruto do acaso. É consequência direta da falta de projeto de país. Nossos líderes pensam em eleições, não em nações. Pensam em mandato, não em legado. E assim, seguimos num ciclo de promessas não cumpridas, alianças incoerentes e discursos desconectados da realidade.
O Brasil precisa, urgentemente, de responsabilidade política. De líderes que entendam que poder não é fim, é meio. Que saibam que governar é construir consensos, não alimentar conflitos. E que tenham coragem de dizer verdades impopulares, mas necessárias.
Enquanto isso não acontece, o país segue à deriva. E quem paga o preço da desordem é sempre o mesmo: o cidadão comum, o trabalhador, o eleitor que vota e depois é esquecido.