Falta mais de um ano para as eleições de 2026, mas em Pernambuco, o relógio político já acelerou. E no centro desse embate antecipado estão dois nomes que não escondem suas ambições nem seus projetos: Raquel Lyra, governadora do estado, e João Campos, prefeito do Recife. Jovens, carismáticos e tecnicamente preparados, eles protagonizam desde já uma disputa silenciosa — porém cada vez mais evidente — por espaço, narrativa e, claro, poder.
Ambos carregam sobrenomes de peso na política local. Ambos se vendem como representantes da nova política — mas jogam o jogo velho com bastante habilidade. E o tabuleiro já está montado: de um lado, o Palácio do Campo das Princesas tentando mostrar obra, autoridade e liderança estadual. Do outro, a Prefeitura do Recife atuando com forte presença de mídia, marketing de gestão e um discurso de continuidade moderna.
O curioso — e sintomático — é que, mesmo com mandatos ainda em andamento, o foco parece ter migrado da gestão para a prévia. A eleição virou prioridade antes mesmo de ser oficializada. Raquel e João não se enfrentam diretamente, mas os recados são claros. Cada discurso, cada investimento, cada visita ao interior ou anúncio à imprensa já tem subtexto eleitoral.
Raquel, que venceu as últimas eleições com uma virada surpreendente, tenta se afirmar como uma líder estadual com pulso firme, distante dos velhos acordos. Mas enfrenta um Congresso hostil, uma máquina pública lenta e um eleitorado que cobra com pressa. Já João, que foi eleito com apoio maciço da Frente Popular, articula sua reeleição com força e busca nacionalizar sua imagem, tentando se projetar como algo além de um prefeito.
No fundo, os dois já estão testando musculatura para o futuro. O embate local é apenas uma prévia de um movimento maior. Raquel sonha com protagonismo no plano nacional. João, com a bênção do PSB e da esquerda moderada, também não esconde o apetite por voos mais altos.
Enquanto isso, o povo observa — ou talvez nem tanto. A política se antecipa, mas a realidade insiste em seguir seu curso. Faltam creches, faltam hospitais funcionando bem, faltam respostas concretas. A disputa de 2026 já começou, mas a pergunta que precisa ser feita é: e a gestão, continua?
Em tempos de maratona disfarçada de sprint, quem corre demais pode tropeçar cedo. E o eleitor, cansado de promessas e vaidades, pode surpreender.
Porque eleição se ganha com discurso, sim. Mas se perde com descuido.