Com esse Congresso Nacional, estamos fadados ao fracasso

Há algo de profundamente simbólico no prédio do Congresso Nacional. Dois blocos distintos, lado a lado, representando a Câmara e o Senado. Deveriam refletir equilíbrio, harmonia e ação em nome do povo. Mas, na prática, parecem mais dois mundos paralelos — onde o tempo corre devagar e a vontade popular não encontra eco.

O Congresso brasileiro é uma máquina barulhenta, cara e, muitas vezes, ineficiente. Não por falta de estrutura, muito menos de salários — mas por falta de compromisso com a urgência real do país. Enquanto milhões de brasileiros esperam políticas públicas, os corredores de Brasília se enchem de articulações que atendem a tudo, menos ao interesse coletivo.

Projetos importantes emperram por meses, às vezes anos. Reformas fundamentais viram moeda de troca, e a pauta do dia quase sempre é ditada por interesses eleitorais, corporativos ou econômicos. Parece que tudo gira em torno de acordos. E quando há avanço, é comum que venha com jabutis, retrocessos ou armadilhas escondidas nos rodapés dos textos legislativos.

O Congresso também é mestre na arte do adiamento. Quando não querem decidir, criam uma comissão. Quando querem enterrar, criam um grupo de trabalho. Quando o desgaste bate à porta, ensaiam um discurso de indignação… e esperam a próxima manchete.

E o povo? O povo assiste, desconfia, se cansa. Vai às urnas de dois em dois anos, muitas vezes sem esperança de mudança real. Porque vê que as prioridades da política raramente são as prioridades da sociedade. Segurança, saúde, educação, mobilidade urbana — tudo parece estar sempre no discurso, mas longe da ação.

Claro, há exceções. Há parlamentares sérios, técnicos e comprometidos. Mas são engolidos por uma lógica de funcionamento que premia o jogo político acima da entrega. Que valoriza o bom articulador, não o bom legislador.

O Congresso, que deveria ser o coração pulsante da democracia, parece às vezes mais uma sala de espera. Espera-se o timing. Espera-se o governo. Espera-se o centrão. Espera-se o silêncio da opinião pública para aprovar o que não se ousa defender em alto e bom som.

E, assim, o Brasil vai ficando pra depois. Vai empurrando a fatura da inércia. Uma fatura que nós, lá na ponta, é que pagamos — com juros altos, filas longas e direitos negados.

No fim das contas, a ineficiência do Congresso é mais do que um problema político. É um reflexo da distância entre o Brasil que se decide nos gabinetes e o Brasil que se vive nas ruas.

E enquanto essa distância for tratada como algo normal, a ineficiência continuará reinando — com paletó, gravata e muitas notas de empenho.