Brasil embaralhado: quem vai organizar esse jogo?

Por Aldo Vilela – Colunista da Rádio CBN Recife

O Brasil vive uma das fases mais confusas da sua jovem democracia. E não é por falta de Constituição, leis ou instituições. O problema é o uso que se faz delas e a forma como, a cada semana, os poderes da República parecem disputar quem mais contribui para o desalento da população. O STF legisla. O Congresso se divide e paralisa. O Executivo tropeça nos próprios erros. E os estados… bem, os estados já estão em campanha eleitoral escancarada, com postagens e eventos cuidadosamente roteirizados como se fossem episódios de um reality show político.

Para o brasileiro comum, aquele que rala todos os dias e tenta viver dignamente, o cenário é de pura confusão. O Supremo Tribunal Federal, que deveria zelar pela Constituição e transmitir segurança jurídica, mais parece um protagonista de série semanal de suspense político. Ora muda jurisprudência, ora interfere diretamente em pautas legislativas, ora silencia quando deveria se posicionar com firmeza. O cidadão olha para cima e já não sabe mais o que é certo ou errado. Cada ministro fala por si. Cada decisão parece um recado político. Não há previsibilidade, não há serenidade.

Do outro lado da Praça dos Três Poderes, o Congresso Nacional vive um dos momentos mais fragmentados da história. O que se vê é uma verdadeira feira ideológica: partidos rachados, bancadas difusas e líderes preocupados mais em aparecer nas redes sociais do que em construir saídas para os problemas reais do país. As pautas relevantes, como reforma tributária, reforma administrativa ou projetos de combate à desigualdade, ficam emperradas, enquanto discussões vazias sobre narrativas tomam conta das sessões plenárias.

E o Executivo? O Executivo parece ainda em campanha. A comunicação é confusa, os recuos são frequentes, e a impressão que se tem é que o governo vive mais para apagar incêndios do que para governar de fato. Os discursos muitas vezes confrontam os próprios atos, e o foco estratégico parece se perder diante das crises fabricadas dentro do próprio Palácio. A base no Congresso não se entende, os ministros se dividem e, no meio disso, a máquina pública vai andando a passos lentos, sem saber bem para onde.

Enquanto isso, os estados e municípios vão se adaptando à dança eleitoral. Governadores que deveriam estar com foco total na gestão pública já articulam suas reeleições ou projetos maiores, usando todo o aparato institucional para construir narrativas que agradem seus públicos-alvo. É uma campanha não-oficial, mas visivelmente estruturada. E tudo isso diante dos olhos de um TSE que parece hesitar em agir com rigor diante de infrações cada vez mais descaradas à legislação eleitoral.

E enquanto os palácios se ocupam com seus próprios jogos de poder, os dados da educação brasileira seguem em queda livre. Os últimos levantamentos mostram o que já se sente nas salas de aula: evasão escolar crescente, índices de alfabetização caindo, estudantes que saem do ensino médio sem compreender o que leem ou sem dominar as quatro operações matemáticas. O futuro está sendo comprometido todos os dias silenciosamente, cruelmente.

Fica a pergunta: até quando?

Até quando vamos tolerar um país onde os poderes não dialogam, apenas duelam? Onde a política virou palco de vaidades, enquanto as cidades se afundam em problemas reais? Até quando permitiremos que o foco da gestão pública seja a autopromoção, e não a entrega de resultados? Até quando vamos aceitar que nossas crianças recebam educação de segunda enquanto o discurso político ocupa espaço de primeira?

O Brasil precisa parar, respirar e se ajustar. As instituições têm que reencontrar seus papéis. Os políticos precisam entender que governar é mais do que ganhar eleição. E a sociedade precisa deixar claro que está atenta e farta.

O tempo da acomodação passou. Ou este país reencontra o caminho da responsabilidade e do compromisso com o bem comum, ou seguirá sendo refém de um jogo que ninguém mais entende e onde todos, inclusive os bons, perdem.