Alexandre de Moraes: Decisão certa ou mais um capítulo da política do fio da navalha?

Mais uma vez o ministro Alexandre de Moraes protagoniza o noticiário nacional. Para uns, um guardião da Constituição. Para outros, um censor, um inquisidor togado. E aí voltamos à velha pergunta que parece se repetir em loop no Brasil: foi certo ou errado?

A resposta, como quase tudo no Brasil de hoje, depende de onde você está no tabuleiro. Se você enxerga o STF como último bastião contra o avanço da barbárie institucional, Moraes é herói. Se vê a Corte como protagonista de um ativismo político exagerado, ele é o vilão. O problema é que estamos discutindo democracia a partir de paixões, não de princípios.

A decisão mais recente seja ela a suspensão de uma rede social, o bloqueio de perfis ou uma ordem de prisão preventiva contra alguém que ameaça o estado democrático de direito carrega peso simbólico e jurídico. Mas o debate virou torcida organizada. E aí está o risco: quando o certo e o errado se definem por quem é atingido, e não pelo que está em jogo, perdemos a noção de justiça.

Moraes age com firmeza? Sim. Mas firmeza demais, sem freios e contrapesos, pode virar autoritarismo. Por outro lado, omissão diante de ataques à democracia é cumplicidade. O equilíbrio é delicado e o Brasil parece ter desaprendido a viver nele.

Num país em que o Supremo virou protagonista e o Congresso muitas vezes se esconde, decisões judiciais se tornam termômetros da democracia. A temperatura está alta demais. E não é por causa do verão.

É preciso criticar com base, elogiar com cuidado, e acima de tudo entender que não se protege a democracia rasgando seus próprios fundamentos. Se Moraes errou ou acertou? Talvez tenha feito os dois. Mas o erro maior talvez esteja em um país que, há anos, confunde justiça com vingança e poder com salvador da pátria.

E assim seguimos: de toga em toga, de fúria em fúria, esperando que um milagre institucional nos tire do buraco que nós mesmos cavamos.