Hoje nosso comentário vai direto ao coração das engrenagens políticas de Brasília, onde mais uma vez o governo federal sofreu uma derrota importante, e desta vez em um campo que mexe diretamente com o bolso dos brasileiros — o IOF, Imposto sobre Operações Financeiras. O que parece um detalhe técnico, na prática é um sinal claro: o governo Lula está perdendo fôlego no Congresso.
Esse episódio é mais do que uma simples votação. É um gesto de independência da Câmara, liderada por um Hugo Mota cada vez mais confortável na posição de protagonista. E não é de hoje que o governo Lula tem dificuldades para articular sua base. Desde o início do terceiro mandato, o Planalto vem tropeçando na relação com os parlamentares, mesmo com um orçamento bilionário em emendas. A questão do IOF escancara essa fragilidade.
Ora, quando o Executivo veta um projeto, espera-se que tenha musculatura política para sustentar essa decisão. Não foi o que vimos. O veto caiu com uma maioria robusta, quase simbólica. Não houve mobilização eficiente dos líderes governistas. Nem diálogo antecipado, nem convencimento nos bastidores. O resultado foi uma vitória retumbante do Legislativo — e um alerta vermelho para o Planalto.
A derrota no IOF não é só uma questão fiscal — embora o impacto nos cofres públicos exista, sim. Ela representa o enfraquecimento de um governo que prometeu reconstruir pontes, mas tem se perdido entre os escombros das vaidades políticas e de uma base aliada que cobra caro para se manter de pé. Lula, com toda sua experiência, sabe o peso simbólico de uma derrota como essa. Afinal, quando o Congresso começa a atropelar o Executivo com esse grau de independência, o risco é de tornar o governo um refém permanente do humor parlamentar.
E é importante lembrar: essa derrota veio numa pauta que envolve desenvolvimento econômico, exportações e incentivo regional. Ou seja, uma pauta que em tese deveria unir governo e Congresso. Nem assim houve consenso. Se o governo não consegue sustentar um veto num tema com apelo positivo, o que esperar quando chegarem pautas mais espinhosas? Como a reforma tributária, as privatizações ou eventuais cortes orçamentários?
A verdade é que a Câmara, sob Mota , entendeu seu papel: é protagonista, não coadjuvante. E o governo ainda não compreendeu que em 2025 não se governa mais com o “é dando que se recebe”. A política exige mais do que liberação de verbas — exige respeito, construção coletiva e, principalmente, articulação real. O tempo do rolo compressor do Executivo ficou no passado. Agora, quem não conversa, apanha.
Fica a lição — ou deveria ficar. Porque se o governo continuar perdendo batalhas simbólicas como essa, corre o risco de comprometer a própria governabilidade. E quem perde, no fim das contas, é o povo brasileiro, que assiste atônito ao vaivém de uma política que ainda prefere a queda de braço ao diálogo.