O sete de setembro, data maior da nossa independência, deveria ser o momento de união de um povo que, apesar das diferenças, compartilha o mesmo destino. Porém, o que vimos novamente foi o retrato de um Brasil dividido, marcado pelo ódio, pelo radicalismo e pela incapacidade de construir pontes.
Em vez de celebrarmos a nação, assistimos a um espetáculo de torcidas políticas organizadas. De um lado, militantes e simpatizantes do presidente Lula, armados de palavras de ordem contra os adversários. Do outro, seguidores de Jair Bolsonaro, que insistem em transformar o verde e amarelo em uniforme exclusivo de sua causa e, para completar a caricatura, empunham bandeiras americanas no dia da independência do Brasil. Eis o retrato da confusão: um país que não sabe mais reconhecer seus próprios símbolos como patrimônio coletivo.
Não se trata apenas de divergência política — algo saudável e fundamental em qualquer democracia. O que se vê é a substituição da razão pelo fanatismo, da pluralidade pela intolerância. O espaço para o diálogo foi soterrado pela gritaria. Quem pensa diferente é inimigo, quem discorda deve ser eliminado do debate. É a lógica do “nós contra eles” que já destruiu tanto e ainda promete prolongar o atraso nacional.
O mais grave é perceber que estamos aprisionados a dois polos que se retroalimentam. Lula e Bolsonaro, cada um a seu modo, se beneficiam dessa polarização. Um existe politicamente porque o outro existe. Enquanto isso, o Brasil real, o das filas nos hospitais, da insegurança nas ruas, da precariedade da educação e da falta de empregos, fica em segundo plano. O palco é ocupado pelo espetáculo da raiva.
E o que dizer da nossa juventude, que cresce vendo esse exemplo? Em vez de aprender a dialogar, aprende a hostilizar. Em vez de compreender o valor da política como espaço de construção coletiva, absorve a política como ringue. Estamos criando gerações incapazes de ouvir, incapazes de ceder, incapazes de pensar além do imediatismo das redes sociais.
A pergunta que não cala é: qual a saída para o Brasil diante de tanto extremismo? A resposta não é simples. Mas certamente não está na radicalização. Precisamos de uma liderança que rompa essa lógica perversa, que devolva o país ao campo da racionalidade. Uma liderança que fale em pacificação, que proponha convergência em torno dos problemas reais e não em torno de vaidades políticas.
Sete de setembro de 2025 ficará marcado como mais um retrato do Brasil raivoso. Um país que troca o debate democrático por provocações, que esquece seus símbolos para adotar bandeiras estrangeiras, que idolatra líderes em vez de cobrar soluções. Uma nação que insiste em se perder em paixões cegas quando deveria encontrar-se na maturidade política.
Enquanto continuarmos nesse caminho, a independência será apenas uma data no calendário. De independentes, continuaremos tendo muito pouco.