Supersalários, superhipocrisia

Por Aldo Vilela – CBN Recife

No Brasil, tem muita gente que adora discursar sobre justiça, sobre equilíbrio fiscal, sobre a necessidade de cortar gastos do Estado. Mas quando a tesoura ameaça passar perto do próprio contracheque, o discurso muda. E muda rápido. De defensores do equilíbrio, viram súditos do privilégio. Quando o corte é no dos outros, é “reforma”; quando chega no deles, é “injustiça”.

E assim seguimos convivendo com os famigerados supersalários, aqueles vencimentos que ultrapassam o teto constitucional, desrespeitam o bom senso e zombam da cara de quem trabalha o mês inteiro por um salário mínimo. São magistrados, promotores, servidores de elite, altos cargos do Legislativo e do Judiciário que, com penduricalhos e manobras legais, chegam a embolsar valores absurdos todo mês. É auxílio disso, retroativo daquilo, indenização de ontem, bônus de amanhã. No fim, o teto vira piso. E o contribuinte? Vira palhaço.

O mais revoltante é a naturalização do absurdo. Quando se fala em cortar esses excessos, surgem os velhos argumentos: “são carreiras de Estado”, “a responsabilidade é alta”, “existe previsão legal”. Sim, existe previsão mas falta vergonha.

Ninguém está dizendo que esses profissionais não devem ser bem remunerados. Mas o problema é quando o Estado vira um clube de autoproteção, onde os mesmos que deveriam dar exemplo fazem de tudo para manter seus privilégios intactos. A lógica é simples: reforma para os outros, estabilidade para mim.

E o Congresso? Esse, quando é chamado a agir, desvia o olhar. Porque muitos ali também têm o rabo preso ao sistema. E como ninguém quer mexer no próprio bolso, o assunto morre antes mesmo de ser discutido.

Enquanto isso, o Brasil real segue atolado: falta remédio em hospital, sobra aluno por professor, e a fila do INSS é mais longa que justificativa de parlamentar pego no escândalo. Mas o holerite de quem já ganha muito continua crescendo em silêncio à sombra da omissão.

No fim, o Brasil dos privilégios vai vencendo o Brasil do povo. A elite funcional se blinda, o Congresso se cala, e a população, como sempre, paga a conta. Porque aqui, o que se corta é o cafezinho do servidor da base mas jamais o vinho do gabinete climatizado.

A moral da história? Ninguém quer perder privilégio. E enquanto for assim, toda tentativa de reforma será apenas teatro para iludir trouxa.