No calor úmido e desorganizado da política pernambucana, um fenômeno já conhecido volta a incomodar: a campanha eleitoral disfarçada, velada ou, para ser mais sincero, escancarada bem antes do calendário permitir. Mal saímos das eleições passadas e o que vemos nas redes sociais, nas entrevistas estrategicamente agendadas e nas agendas públicas cheias de fotos e vídeos, é um desfile precoce de intenções eleitorais.
É como se o jogo democrático tivesse perdido o compasso. Em vez de governar, muitos preferem posar. Em vez de apresentar resultados concretos, preferem narrativas bem editadas, carrosséis no Instagram e lives ao pôr do sol. O povo, mais uma vez, vira plateia de um teatro mal ensaiado onde as promessas de futuro servem apenas para esconder a falta de entrega no presente.
Em Pernambuco, o cenário não é diferente. Basta circular um pouco pelos municípios, ouvir o rádio local, prestar atenção nas redes sociais de certas figuras públicas e ver como elas se repetem sempre com o mesmo tom de “salvadores da pátria”. Vídeos emocionados, depoimentos com trilha sonora de superação, visitas a comunidades em situação de abandono (curiosamente ignoradas nos últimos anos), tudo com aquele ar artificial de quem redescobriu o povo.
Mas o que mais preocupa não é só a antecipação da disputa. É o desgaste que isso causa. A cada eleição, o eleitor brasileiro tem sido bombardeado com mensagens políticas cada vez mais cedo, mais frequentes e mais vazias. A consequência? Cansaço. Irritação. Cinismo. Um desinteresse perigoso que mina a democracia por dentro.
A lógica é perversa: candidatos que não respeitam nem mesmo o tempo do eleitor querem ser os mesmos a “salvar o Brasil” depois. Só que talvez, desta vez, o feitiço vire contra o feiticeiro. O eleitor pode sim se esgotar antes da hora e transformar esse cansaço em rejeição. Porque quando tudo é campanha, nada é governo.
As redes sociais esse campo de batalha sem regra clara viraram palco para estratégias duvidosas que beiram o abuso. Publicações impulsionadas, vídeos com estética publicitária, elogios de aliados em série e até influenciadores sendo cooptados para “naturalizar” o nome de certos candidatos. E tudo isso sob o olhar passivo da Justiça Eleitoral, que parece sempre chegar atrasada no jogo.
Não se trata de criminalizar a comunicação ou o bom uso das redes. Mas há uma diferença entre mostrar trabalho e fabricar um personagem. E o povo já sabe porque sente na pele quando a empolgação digital não se traduz em realidade.
Em tempos de crise de confiança, cada passo em falso conta. E começar uma campanha antes do tempo pode parecer esperteza, mas pode ser também o erro fatal. A ansiedade do poder tem seu preço. E pode custar, justamente, o voto.
Enquanto isso, o que a população espera ainda que silenciosamente é trabalho. Resultado. Postura. Governar de verdade ainda é o melhor marketing que existe. Pena que poucos perceberam isso. E muitos, como sempre, vão descobrir tarde demais.