Este País não deu Certo?

Vou começar o texto, tomando emprestada a frase que retranca todos os parágrafos seguintes de um grande amigo meu e homem de bem, André Régis. É duro dizer, mais duro ainda é pensar… mas às vezes parece que o Brasil foi desenhado para não dar certo. Como se existisse uma espécie de maldição institucional, um script invisível que empurra o país — geração após geração — para o mesmo ciclo de promessas, desilusões e retrocessos.

Temos tudo. Riqueza natural de dar inveja, povo criativo, juventude cheia de energia, território vasto, água doce em abundância, biodiversidade única, e uma posição geográfica privilegiada. Mas o que nos falta é justamente o que não se pode extrair da terra: caráter público, responsabilidade coletiva, compromisso ético e projeto de nação.

O Brasil é o país onde o errado vira hábito e o certo é tratado como exceção. Onde a corrupção é endêmica, mas o corrupto segue sendo reeleito com sorriso no rosto e jingle novo. Onde escolas caem aos pedaços, mas estádios se erguem em tempo recorde. Onde a fila do SUS é infinita, mas os palácios são climatizados. Onde quem estuda não tem chance, e quem engana vira exemplo de esperteza.

Nossos políticos, com raríssimas exceções, não governam: administram seus próprios interesses. O Estado virou máquina de favorecimento, e o serviço público se transformou, muitas vezes, em carreira de privilégios e estabilidade para quem não entrega resultado. O mérito assusta, a competência incomoda e a mediocridade se acomoda.

A elite econômica vive num país à parte. Os poderosos moram em condomínios murados, estudam fora, se tratam no exterior e fingem que o Brasil real não lhes diz respeito. Enquanto isso, o povo segue nas ladeiras, nos ônibus lotados, nas filas humilhantes, na sobrevivência diária. E ainda há quem diga: “o brasileiro é feliz”. Feliz? Ou anestesiado?

A educação, que deveria ser nossa revolução, virou retórica de palanque. A saúde é um direito só no papel. A segurança é terceirizada para milícias ou abandonada à própria sorte. E a justiça? Bem… essa costuma funcionar para quem pode pagar por ela.

Então, sim, há dias em que a pergunta é inevitável: esse país nasceu para não dar certo? Ou fomos nós que nunca quisemos consertá-lo de verdade?

Porque dar certo dá trabalho. Exige sacrifício, exige escolha, exige ruptura com velhas práticas e pactos de conveniência. E esse país, até hoje, tem se especializado em empurrar tudo com a barriga, em varrer o problema para baixo do tapete, em dizer que “amanhã melhora”. Só que esse amanhã nunca chega.

Mas talvez ainda haja esperança. Porque o Brasil que não dá certo de cima pra baixo pode um dia se erguer de baixo pra cima. Com um povo que diga basta. Com uma juventude que decida não repetir os erros dos pais. Com cidadãos que não vendam seu voto, que cobrem, que leiam, que pensem, que resistam.

O Brasil pode dar certo. Mas para isso, precisa parar de brincar de país e começar a se comportar como uma nação séria.

E aí, a pergunta muda: o Brasil nasceu para não dar certo… ou foi sabotado por quem nunca quis que ele desse?