Passadas as fogueiras, os balões, os forrós e os shows milionários promovidos pelos prefeitos festeiros, o Brasil real volta a bater à porta. Junho vai embora com cheiro de milho verde e nota fiscal de artista superfaturada. É o momento em que o cidadão, que por semanas foi distraído com sanfona e pirotecnia, se depara com a dura realidade que o espera no próximo semestre.
O segundo semestre chega com cobranças atrasadas, problemas estruturais e a ressaca moral de um país que segue adiando decisões sérias. As prefeituras, muitas delas mergulhadas em dívidas e incapazes de oferecer o básico – saúde, educação, saneamento – desembolsaram cifras astronômicas para trazer estrelas do forró e do sertanejo. É o velho Brasil, que troca política pública por festa popular, gestão por palco, planejamento por pirotecnia.
Mas agora os holofotes se apagam e os microfones são desligados. O que resta é o buraco na rua, o hospital sem insumo, o servidor sem reajuste, a escola com goteira. Resta a população, mais uma vez, deixada no escuro, como a lâmpada queimada do poste da esquina.
O segundo semestre promete cobranças da justiça, pressão de tribunais de contas, queda de arrecadação e um olhar cada vez mais atento do cidadão, que começa a perceber que o pão e circo têm prazo de validade. E quando o circo vai embora, só resta o caos.
Que os prefeitos festeiros agora provem que sabem administrar com a mesma eficiência com que montaram camarotes. Porque se no São João o povo aplaudiu, no final do ano, o povo cobra. E cobrança feita nas urnas, meu amigo, tem gosto de forró de despedida.