Quando o Itamaraty silencia para uns e grita para outros

Há momentos em que o silêncio de um governo fala mais alto do que mil discursos. E foi esse silêncio ensurdecedor que ecoou quando o Brasil acompanhou, com pesar e indignação, a morte trágica de uma jovem brasileira em uma ilha da Indonésia.

A ausência do governo federal — em especial do Ministério das Relações Exteriores — foi, no mínimo, vergonhosa. Num tempo em que uma ligação internacional é resolvida por um clique e em que redes sociais pressionam mais que fax diplomático, o Itamaraty simplesmente diz que não pode ajudar no translado do corpo da jovem com recursos financeiros.

Mas não é essa a mesma diplomacia que, em tempo recorde, mobilizou-se para trazer ao Brasil a militante peruana condenada por atos de corrupção em seu país, sob a alegação de exílio político? Pois é. O governo Lula mostrou toda sua agilidade quando se tratou de conceder asilo a uma figura alinhada à esquerda latino-americana. Num piscar de olhos, avião garantido, estrutura montada e narrativa pronta: era uma “perseguida”.

E aqui está o problema. O Brasil, mais uma vez, escorrega em dois pesos e duas medidas. Para a família da turista morta, apenas silêncio. Para a militante ideológica, acolhimento digno de chefe de Estado. Essa seletividade revela o pior tipo de gestão pública: a que atua não em nome do cidadão, mas em nome de conveniências políticas.

O que está em jogo não é apenas a dor de uma família ou o direito ao exílio — é a credibilidade da diplomacia brasileira. O Itamaraty, que já foi sinônimo de excelência e respeito internacional, hoje parece operado por interesses ideológicos, e não por princípios humanitários. Esqueceu-se de que sua missão maior é proteger brasileiros, estejam onde estiverem, independentemente de quem votaram ou do que pensam.

Fica a pergunta: será que, se a jovem turista carioca fosse uma ativista filiada a um movimento alinhado ao governo, o apoio logítico seria mais rápido? A resposta talvez não venha — mas o incômodo, esse permanece.

O povo brasileiro, que paga impostos altos e confia no seu Estado, merece um governo que esteja presente nas horas mais difíceis. E não apenas quando há ganho político envolvido. Isabela, infelizmente, virou símbolo dessa negligência. E a história registrará: quando mais se precisou do Brasil, o Brasil não veio.